segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Casulo de Aço

Esta postagem é uma tradução da postagem "The Steel Cocoon", publicada em http://www.ecovelo.info/2008/06/12/the-steel-cocoon/

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Carros distorcem nossas percepções de tempo e espaço. Eles agem como extensões portáteis do abrigo oferecido pelas nossas casas, anestesiando-nos da realidade da distância viajada, e cegando-nos da topografia através da qual viajamos. Usando uma quantidade maciça de energia, os carros reduzem os esforços físicos requeridos para nos movermos pelo mundo a não mais do que um movimento do pé e uma virada do pulso; um esforço físico quase comparável a trocar o canal da televisão ou navegar na internet.

Os carros também nos isolam da realidade das condições do tempo. Vento a favor ou vento contra não têm significado dentro de um carro. Chuva é apenas uma inconveniência. Temperaturas congelantes requerem apenas um ajuste no botão do termostato. Experimentar uma tempestade de dentro de um carro é como assistir um filme sobre a natureza em um Home Theater climatizado e confortável.

Andar de bicicleta, por outro lado, nos faz mais intimamente conscientes das nuances da paisagem e da energia requerida para cobrir determinada distância. Pedalar nos tira do útero sedentário de conforto e conveniência proporcionado pelo automóvel e nos submerge no mundo real e perceptível de mau tempo, subidas, fumaça de escapamento, cães latindo, odores naturais, e belos pôres-do-sol. Dirigir um carro é tão fácil que torna praticamente desnecessário pensar se um trajeto deve ou não ser feito. Pedalar, por outro lado, requer um esforço bem definido, e consequentemente estimula o planejamento e a eficiência. O ciclismo, pela própria natureza, pune o desperdício de energia.

Nós pagamos um preço pesado pela conveniência oferecida pelo automóvel. Dependência de petróleo, aquecimento global, fumaça, acidentes de trânsito, e muitos outros problemas são todos uma parcela de nosso desejo de extender nosso conforto além de nossas casas dirigindo nossos carros. A pergunta é: Vale mesmo à pena? E se não, o que vamos fazer a respeito?

terça-feira, 11 de maio de 2010

Resenha de música: PEIXUXA (Raul Seixas)

Ainda em clima de petróleo no mar, não pude resistir a fazer meu comentário sobre esta música: Peixuxa, o Amigo dos Peixes.

A primeira vez que ouvi, tive aquele choque auditivo: "Ué, mas o Raul Seixas fez música INFANTIL??" O compasso 2:4 típico das músicas à la Xou da Xuxa, uma flautinha no melhor estilo Sítio do Picapau Amarelo (só que ainda mais acrobática), e uma letra cujo tema gira em torno de fantasias bobinhas... Será?

Prestando atenção às sutis alusões sobre "grandes corporações" de charuto, terno e gravata, sobre coisas que ocorrem em surdina, de forma oculta, obscura, até sinistra, embora envoltas em uma aura superficial de descontração e leveza, mostra não só a suprema ironia de Raul, mas também suscita - vejam bem, a meu ver - aquela idéia de que a natureza tem seus meios, que a Terra gira "pelo seu grande poder", e que "Deus corrige o mundo pelo seu dominamento": a mesma mão de Gaia que é cordial com os peixes pode esmagar "o inseto que da terra se criou" (ou, mais claramente, NÓS).

Lá vai a letra


"Entra pelas portas do fundo
Do Oceano Atlântico um cara
De baleia, terno e gravata
Seu nome é Peixuxa,
É amigo dos peixes
É gente e respira debaixo do mar
Mar, mar, mar
Ma, ma, ma, ma, mas...

Sempre com um charuto na boca
Vai andando debaixo d'água
Vai até o mediterrâneo
Pois tem um encontro com hora marcada
Com a lua cheia para um lindo jantar

Tem gente estranha por debaixo do mundo
Tal qual Peixuxa, baixo, gordo, salgado
Tem gente estranha trabalhando nos fundo
Que não é peixe mas não morre afogado
Do, do, do, do, do, do

Ele é cordial com os peixes
Dá bom-dia quando é de dia
Boa-noite quando é de noite
E se não é noite, e se não é dia
Peixuxa, amavelmente, dá "maresia"

Seu Peixuxa antigamente
Foi chamado de Deus dos mares
"Inda" guarda em casa um tridente
E quando eu olho
O mar com petróleo
Eu rezo a Peixuxa que ele fisgue essa gente"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Homenagem ao Vazamento de Petróleo - Grande Poder (Mestre Verdelinho)

Acabei de voltar de um show de Déa Trancoso no Salão de Atos da UFRGS, onde ouvi uma música perfeitamente adequada ao tão sub-noticiado vazamento de petróleo. Vejam essa:


"A terra deu, a terra dá, a terra cria
homem, a terra cria, a terra deu, a terra há
a terra voga, a terra dá o que tirar
a terra acaba com toda má alegria

a terra acaba com o inseto que a terra cria
nascendo em cima da terra, nessa terra há de viver
vivendo na terra, nessa terra há de morrer
tudo que vive nessa terra pra essa terra é alimento

deus corrige o mundo pelo seu dominamento
a terra gira com o seu grande poder
grande poder, com o seu grande poder
o nosso deus corrige o mundo pelo seu dominamento..."