quarta-feira, 27 de maio de 2009

E se a cuia do chimarrão azeda?

Bom dia, Boa tarde, Boa noite.

A cuia do chimarrão é objeto de várias teorias, crendices, superstições, chegando a ser tratada quase como se tivesse vontade própria. De certa forma, tem mesmo, já que provém do porongo, que algo vivo e de certa forma possuidor de certo livre-arbítrio.

Já tive dificuldades horríveis para curar uma cuia nova, e os melhores resultados não foram totalmente satisfatórios... Acabei tendo que recorrer aos "curandeiros", que levaram ela embora, fizeram seus procedimentos obscuros, e a trouxeram, de fato, melhorada.

O que me incomoda é que a coisa não é assim. Eu como um homem científico (embora não totalmente cientificista) me recuso a adotar procedimentos sem questionar sua viabilidade. É mais que óbvio que deixar a cuia de molho na erva três dias seguidos OU já ir tomando chimarrão com ela não faz (ou não deveria fazer) a menor diferença. Mas enfim, deixemos isso para outros discutirem.

O que me traz aqui é que, aparentemente, descobri um bom meio de dar uma renovada naquela cuia que azedou dum dia pro outro. Evidentemente o que acontece ali é uma proliferação bacteriana, e matar as bactérias bem matadinhas é o primeiro passo para tirar o cheiro ruim e evitar que azede de novo tão fácil, sem falar que o único jeito de tomar um chimarrão bom é numa cuia que não está azeda.

Pois bem, acredito que derramar álcool na cuia e deixar um tempo possa funcionar bem, mas como hoje em dia o álcool está muito pouco concentrado, e seria necessária uma quantidade meio grande de álcool, deixando o procedimento um pouco caro demais.

Outra maneira seria com radiação. Tentando curar minhas cuias das quais já falei, deixei-a de cabeça para baixo sobre uma lâmpada de 40W. De fato esquentou bastante, e as bactérias devem ter morrido, mas também ficou uma mancha carbonizada no fundo da cuia, que contaminou definitivamente o gosto do mate...

Próxima teoria: água quente, muito quente. Isso é o que eu vinha fazendo: despejava água fervendo até preencher dois terços da cuia. Às vezes parecia até que estava efervescente. Aparentemente tinha tudo para dar certo. Mas não: diria eu que, a partir do momento em que a água entrava em contato com a cuia, e mesmo antes, enquanto era derramada, a evaporação e o contato com o ar fazia com que a água já não estivesse tão quente. E tem mais: após derramar a água fora, a cuia ficava úmida e fria, devido à evaporação, e isso seria suficiente para que as poucas bactérias sobreviventes começassem a se multiplicar no "caldo".

Pois hoje fiz algo que realmente parece ter funcionado: pequei a cuia e coloquei, de cabeça para baixo, sobre o bico da chaleira enquanto a água fervia. O vapor saía àquela temperatura muito alta, e ia esquentando a cuia por dentro. Quando a cuia já estava quente POR FORA, ou seja, todas as camadas potencialmente contaminadas já estavam à temperatura máxima, enxaguei a cuia com a própria água fervente, joguei fora rápido antes que esfriasse, e sacudi bem (por um minuto mais ou menos) para que não ficasse resto de umidade.

Pois bem, depois de fazer isso, dentro de uma hora a cuia já estava totalmente seca, limpa e praticamente sem cheiro, tanto que agora estou tomando um chimarrãozinho bem satisfatório...

Por hoje era isso

Helton

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Resenha: Joelho de Porco - Pé na Senzala (música)

Este (primeiro) post é minha modesta contribuição a uma banda brasileira que eu adoro, e que considero muito injustamente esquecida, exceto por aqueles que realmente se propõem a garimpar coisas velhas e garantir que seu "panteão sonoro" não deixe ninguém de fora, ou ao menos ninguém que mereça.

Sem muitos detalhes: a banda Joelho de Porco, formada em São Paulo por volta dos anos 70, creio eu, que eu saiba tem dois discos: "São Paulo 1554-hoje", que creio ser mais conhecido e mais "roqueiro", com generosas doses de progressivo; e "Saqueando a Cidade", mais longo, levemente mais brega (até no timbre dos instrumentos), mas contendo algumas "pérolas" hilárias.

Uma dessas pérolas é a música "Pé na Senzala". Brilhantemente arranjada no estilo "black music" à la James Brown (e seu discípulo Jorge Ben), a música tira sarro do suposto fato de que os negros do Brasil estavam deixando o samba de lado e dando preferência à onda black "importada" do Zeua. E que por outro lado o samba teria perdido sua identidade ao virar música de branco.

Contando assim até não tem muita graça, mas a música é genial, em especial se considerarmos a combinação entre a letra (ironia e sarcasmo sutis) e a música propriamente dita (com destaque para o baixo slap e as quebradas de tempo elaboradas). Cômico também é o cara cantando "I'm a sex machine... Querosene..." (aludindo a Gasoline, coisas de James Brown). Mas chega de papo, vai aqui a letra (fonte: Terra)

Pé na senzala

Joelho de Porco

Composição: Zé Rodrix

PÉ NA SENZALA

Agora eu sei
Porque é que quem é negro já não dança
samba
Porque é quem é negro tá na onda
black
Deixando louca a critica especializada
(o donos do samba)
É que agora eu sei
Que quem é negro tem que ter a sua música
Falando a mesma língua da rapaziada
Que tem muito trabalho e salário pouco

É que o samba deixou de ser uma música negra
É que o samba deixou de ser uma música livre
É que o samba deixou de ser uma música pobre
Uma música viva
É que o samba passou a ser
Música de gente satisfeita

E hoje que eu já sei
Que negro dança black e branco dança samba
Que o black vem do morro e o samba da cidade
E é dentro da cidade que se encontra o samba
(desfigurado)
Eu vou dançar
O black como um dia já dancei o samba
Com a mesma alegria e a mesma liberdade
Que a minha avó dançava o maracatú
Na senzala


Acho que eles não vão ficar bravos nem vão perder dinheiro se eu der de presente:

http://www.4shared.com/file/102008721/d1cbc904/P_na_Senzala.html

Então era isso, hora dessa tou por aqui de novo.